Consumo alimentar e estado nutricional de crianças das comunidades quilombolas de Alagoas

Autora: Fernanda Maria de Banneux Leite

Data da defesa: 20/12/2010

Banca examinadora:

Prof. Dr. Haroldo da Silva Ferreira – FANUT/UFAL - orientador

Profª Drª Terezinha da Rocha Ataíde - FANUT/UFAL - examinadora

Profª Drª Maria de Fátima Machado de Albuquerque - FAMED/UFAL - examinadora

Resumo Geral:

Objetivos: Avaliar o consumo alimentar e o estado nutricional de crianças pré-escolares das comunidades quilombolas de Alagoas.

Métodos: Por meio de estudo transversal foram estudadas as crianças de 13 a 59 meses das 39 comunidades quilombolas do estado de Alagoas. O consumo alimentar foi avaliado por meio de inquérito recordatório de 24 horas. Na análise dos dados utilizaram-se as Ingestões Dietéticas de Referência (DRIs), conforme as recomendações propostas pelo Institute of Medicine. Para avaliar o estado nutricional foram usados os índices antropométricos peso-para-idade, altura-para-idade e peso-para-altura, adotando-se o ponto de corte de ± 2 desvios-padrão, em relação à mediana do padrão OMS-2006, para caracterizar a condição de déficit ou excesso. O diagnóstico de anemia foi assumido quando o nível de hemoglobina era menor que 11 g/dL. Para isso, utilizou-se uma gota de sangue obtida por punção da polpa digital para leitura em hemoglobinômentro portátil (Hemocue). Para melhor caracterização das famílias, foram também coletados dados socioeconômicos e demográficos. A análise estatística foi realizada com o auxilio dos pacotes Epi-info e SPSS, utilizando-se testes de inferência paramétricos ou não paramétricos, conforme as características das variáveis obtidas.

Resultados: Foram estudadas 724 crianças (49,4% meninos). A concentração média de hemoglobina foi de 11,0 ± 1,6 g/dL e a prevalência de anemia foi de 48,0%. Os desvios antropométricos de maior relevância foram o déficit de altura-para-idade (9,7%), indicativo de desnutrição crônica, e o excesso de peso-para-altura (6,0%), sugestivo de obesidade. As crianças consumiam uma alimentação com pouca variedade de alimentos, caracterizada pela presença constante de leite e derivados de cereais, elevada ingestão de carnes e baixo consumo de legumes, verduras, tubérculos e raízes. Com base no percentual de energia fornecido pelos carboidratos, observou-se que uma grande proporção de crianças (85,9%), apresentava consumo adequado. Com relação à adequação da ingestão de carboidratos de acordo com a EAR, 24,8% das crianças apresentavam consumo abaixo do recomendado. A proporção de crianças que tiveram um consumo de lipídios abaixo do limite mínimo da Faixa de Distribuição Aceitável de Macronutrientes (Acceptable Macronutrient Distribution Range - AMDR) foi elevada (57,4%). O consumo de energia proveniente da ingestão de proteínas, na maior parte dos casos, encontrava-se dentro dos limites recomendados da AMDR, assim como sua adequação pela EAR em relação a g/kg/dia. Observou-se uma considerável prevalência de inadequação no consumo da maioria das vitaminas e minerais, incluindo-se zinco (17,0%), vitaminas A (29,7%) e C (34,3%) e ferro (20,2%). A análise da ingestão dietética segundo a classe econômica (B, C, D e E) das famílias revelou que aquelas da classe E, a de menor poder aquisitivo, apresentaram consumo médio inferior aos observados nas demais classes, para a maioria dos nutrientes analisados.

Conclusão: As prevalências de desnutrição crônica e de anemia foram muito semelhantes às observadas para as demais crianças do estado de Alagoas, esta última atingindo patamares representativos de grave problema de saúde pública, condição que não pode ser explicada, apenas, pela inadequação no consumo de ferro. A interação com outras carências nutricionais, aliada à precariedade das condições de saneamento ambiental observada, explicaria parte dessa determinação. Pertencer às classes econômicas de menor poder aquisitivo representou um fator de risco para um consumo dietético inadequado. Recomendam-se maiores investimentos na infraestrutura de serviços públicos e em educação nutricional, de modo a contribuir para a realização do direito humano à alimentação adequada e para um melhor padrão de nutrição da população estudada.

Palavras-chave: Comunidades remanescentes quilombolas; consumo alimentar; estado nutricional; crianças pré-escolares.

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