Acurácia do body shape index (ABSI) como preditor de doenças crônicas em mulheres afrodescendentes

Autora: Mariana Lopes Freire Soares

Data da defesa: 16/03/2020

Banca examinadora:

  • Prof. Dr. Haroldo da Silva Ferreira - presidente
  • Profª Drª Telma Maria de Menezes Toledo Florêncio - examinadora
  • Prof. Dr. Luiz Antonio dos Anjos - examinador

Resumo geral:

No Brasil, mais da metade da população é de origem negra. Todavia, em relação à população branca, os negros estão  submetidos a uma série de iniquidades, tais como menor nível socioeconômico, menor escolaridade e capacitação profissional, além de estarem submetidos à discriminação social e institucional. Esses aspectos são ainda mais evidentes no contexto dos povos quilombolas. Estes são os descendentes de escravos que fugiam das senzalas e se refugiavam em áreas isoladas predominantemente rurais, nas quais se agregavam também aqueles que ganharam a liberdade no final da escravidão no país. Em decorrência de um contexto histórico de exclusão, esse grupo étnico racial se caracteriza por extrema vulnerabilidade social, encontrando-se especialmente exposto a diversos fatores de risco, o que os tornam mais susceptíveis às doenças crônicas não transmissíveis. Dentre os principais fatores de risco para o desenvolvimento das doenças crônicas encontra-se o excesso de adiposidade corporal, sendo a utilização de indicadores antropométricos uma importante estratégia para a identificação de indivíduos que apresentam essa condição. Com essa finalidade, o Índice de Massa Corporal (IMC) tem sido amplamente utilizado em nível populacional. No entanto, essa medida reflete apenas a massa corporal total ajustada pela estatura, o que, além de não distinguir composição corporal, não indica o padrão de distribuição da gordura (se visceral ou subcutânea). Para esta última limitação, outras medidas foram propostas, tais como a circunferência da cintura (CC). Todavia, essa medida apresenta alta correlação com o IMC, de modo que sua utilização não acrescenta vantagem substancial. Diante disso, Krakauer e Krakauer desenvolveram o Body Shape Index (ABSI), um índice
baseado nas medidas da cintura, massa corporal e estatura. Utilizando análise alométrica, esse índice é capaz de estimar o impacto da cintura em relação ao tamanho do corpo. O Body Shape Index vem sendo utilizado como preditor de enfermidades e risco de mortalidade. Contudo, nenhuma investigação sobre sua acurácia como preditor de doenças crônicas não transmissíveis em população afrodescendente fora realizada. Diante disso, realizou-se a presente dissertação no intuito de preencher essa lacuna. Para abordar a questão proposta, a dissertação encontra-se dividida em dois capítulos: um de revisão da literatura e um outro que se trata de um artigo original. Para a revisão da literatura utilizaram-se as bases do PubMed, SciElo, Lilacs e o banco de teses da CAPES. A busca foi realizada com base nas palavras chaves “população negra”, “saúde” e suas correlatas. O artigo original utilizou dados de um estudo transversal (Nutrição e saúde da população materno-infantil das comunidades remanescentes dos quilombos do estado de Alagoas), o qual investigou a população da metade das 68 comunidades quilombolas do estado. Foram elegíveis para este estudo todas as mulheres (19 a 59 anos) residentes nas comunidades sorteadas (n=1661). As seguintes condições crônicas foram avaliadas: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e dislipidemias. Foram coletados os dados antropométricos de massa corporal, altura e CC, os quais foram utilizados para os cálculos do ABSI, do IMC, do índice de conicidade (Índice C) e da relação cintura estatura (RCE). Além disso, foi estimado o percentual de gordura corporal (%G) por meio de bioimpedância. A capacidade preditiva do ABSI em detectar as doenças crônicas comparativamente aos demais parâmetros antropométricos foi definida com base na análise da curva ROC. As áreas sob a curva foram calculadas e comparadas para cada um dos indicadores, usando o teste DeLong. O nível de significância considerado para todos os procedimentos estatísticos foi de 5% (p< 0,05). Na avaliação da acurácia dos parâmetros antropométricos, o %G apresentou o maior poder preditivo para a hipertensão arterial; para diabetes mellitus, a RCE apresentou o melhor desempenho. Para hipertrigliceridemia o índice C foi o que obteve a maior área sob a curva ROC. O ABSI e o índice C tiveram melhor desempenho para hipercolesterolemia e a CC apresentou maior poder discriminatório para a HDL baixa. Em todas as situações analisadas, com exceção da hipercolesterolemia, o ABSI diferiu dos demais indicadores antropométricos (p<0,05), apresentando os menores valores de AUC. Concluiu-se que nessa população afrodescendente, o ABSI foi o melhor preditor para a hipercolesterolemia, tendo sido inferior aos outros indicadores em relação aos demais desfechos analisados.

Palavras-chave: Antropometria. Doença Crônica. Índice de Massa Corporal. Circunferência da Cintura. Obesidade.

Trabalho completo indisponível.