Nutrição e saúde de mães e crianças de uma comunidade quilombola de Alagoas
Data da defesa: 03/12/2013
Banca examinadora:
Prof. Dr. Haroldo da Silva Ferreira – FANUT/UFAL - orientador
Prof. Dr. Daniel Antunes Freitas - FUNORTE/MG - examinador
Profª Drª Giovana Longo Silva - FANUT/UFAL - examinadora
Resumo Geral:
A formação dos quilombos ocorreu como forma de resistência ao regime escravocrata durante o Brasil Colônia, sendo que, até os dias atuais, as comunidades remanescentes dos quilombos sobrevivem em condições de iniquidades sociais, situação que influencia de forma negativa o processo saúde/doença. Apesar disso e do grande número de comunidades quilombolas existentes no Brasil, em especial, em Alagoas, estado brasileiro que detêm os piores indicadores sociais, são poucos os estudos que investigaram a saúde dessas populações. Essa dissertação foi desenvolvida no intuito de contribuir para o preenchimento dessa lacuna. Para isso, está estruturada em dois capítulos, sendo um de revisão da literatura e o segundo sob a forma de artigo original. Este teve por objetivo caracterizar a situação de nutrição e saúde de mães e crianças da comunidade quilombola Bom Despacho (Passo de Camaragibe, Alagoas), além de analisar a tendência temporal de alguns indicadores. O estudo foi do tipo transversal, envolvendo o conjunto de crianças e mulheres da comunidade. Através de visitas domiciliares foram obtidos dados demográficos, socioeconômicos, antropométricos e de saúde. Este inquérito foi realizado em 2012. Utilizaram-se dados de inquérito semelhante realizado em 2008 para permitir a análise de tendências. Como medida de associação utilizou-se a razão de prevalência (RP) e respectivo IC95% calculados por regressão de Poisson com ajuste robusto da variância. Foram analisadas mulheres (n=165) e crianças (n=117) de 173 domicílios. A maior parte das famílias era assistida pelo Programa Bolsa Família (75,0%) e possuía 4 ou menos pessoas na família (52,9%). As casas eram predominantemente de alvenaria (78,9%) e tinham 4 ou mais cômodos (97,6%). A renda per capita para a maioria das famílias situou-se entre US$ 2,23 a 34,7 dólares/dia (61,0%). A origem da água para beber, provinha de fontes alternativas não seguras em 84,2% das moradias. Com relação às mulheres, a maioria (62,8%) estava com excesso de peso (IMC ≥ 25 Kg/m²), 86,2% tinha percentual de gordura acima da média (≥ 24%), enquanto 57,4% tinha obesidade abdominal (circunferência da cintura ≥ 80 cm). A prevalência de hipertensão foi de 33,9%. Entre as mães das crianças estudadas, 95,5% realizaram pré-natal, 47,5% referiam perda de filho por falecimento ou aborto e 44,6% afirmaram que seus filhos receberam aleitamento materno exclusivo até os 6 meses. Entre as crianças, 20,0% tinham anemia 20,0%, 10,9% déficit estatural 17,1% excesso de peso. Quanto à tendência temporal (2008-2012), os principais indicadores que apresentaram evolução estatisticamente significante (p<0,05) foram: tipo de casa alvenaria (33,5% vs. 78,9), renda per capita maior que 2dólares por dia (18,8% vs. 61,0%), possuir 4 ou mais cômodos por domicilio (86,0% vs. 97,6%), origem da água para beber através de fontes alternativas (63,6% vs. 84,2%), uso de medicamento pelas mulheres (21,0% vs. 40,1%), a presença de diarreia entre as crianças (10,3% vs. 26,8%), uma maior procura por consultas entre as crianças (39,0% vs. 60,6%), à atualização do cartão de vacinação (80,3% vs. 95,3%), suplementação de vitamina A (70,2% vs. 100,0%), aleitamento materno exclusivo até os 6meses (8,7% vs. 44,6%), prevalência de anemia em crianças (40,2% vs. 20,0%). Portanto, ocorreram melhorias em vários indicadores, o que, possivelmente, poderia ser explicado pelo aumento da cobertura do Programa Bolsa Família e pela instalação de um centro de saúde no âmbito da comunidade. Apesar disso, a situação observada ainda exige investimentos objetivando incrementar o padrão de nutrição e saúde vigente na população estudada.
Palavra-chave: Saúde, Negros, Estado Nutricional, Promoção da Saúde, Alimentação e Nutrição.