Efetividade da multimistura como suplemento dietético destinado à promoção da saúde

Autora: Sybelle de Araujo Cavalcante

Data da defesa: 17/12/2007

Banca examinadora:

Profª Drª Ana Marlúcia Oliveira Assis – UFAL - orientadora

Profª Drª Maria Alice Araújo de Oliveira - FANUT/UFAL - examinadora

Profª Drª Terezinha da Rocha Ataíde - FANUT/UFAL - examinadora

Resumo Geral:

Dados recentes têm demonstrado que a prevalência de desnutrição infantil vem se reduzindo de forma importante em todas as regiões do Brasil. Ainda assim, continua afetando milhares de crianças, mantendo-se como um grave problema de saúde pública em nosso país, principalmente, nas regiões norte e nordeste. Diante disso, ao lado de ações do poder público, a sociedade civil organizada tem buscado soluções alternativas para solucionar o problema. Nesse contexto, surgiu a proposta da alimentação alternativa, tendo como principal desdobramento a elaboração da chamada “multimistura” (MM), um farelo formulado a partir das partes normalmente não aproveitáveis dos alimentos e usado como suplemento à alimentação habitual de crianças, a qual vem sendo utilizado por profissionais de saúde em grande número de municípios brasileiros. Todavia, a pertinência dessa utilização tem sido seriamente questionada nos meios acadêmicos. Diante disso, realizou-se a presente dissertação com o objetivo de avaliar a efetividade da MM como suplemento dietético destinado a promover a saúde de crianças em situação de risco nutricional. Para desenvolver o tema, foram elaborados dois artigos. No primeiro, denominado “Composição química e efetividade da multimistura como suplemento dietético: uma revisão da literatura”, apresenta-se uma revisão atualizada sobre a composição química, a biodisponibilidade de seus minerais e a efetividade da MM. Os dados obtidos revelam que a mesma é fonte de minerais (ferro, cálcio, zinco, cobre, manganês, selênio) e vitaminas (A, B2, B6, C, ácido fólico, ácido pantotênico e biotina), todavia restam dúvidas quanto à biodisponibilidade desses nutrientes.  A possibilidade de intoxicação pelo cianeto oriundo da folha de mandioca não é descartada. A maioria dos estudos, sobretudo aqueles realizados com seres humanos, apontam para a sua inefetividade em promover o adequado estado nutricional. O segundo artigo, intitulado “Efeitos do consumo da multimistura sobre o estado nutricional: ensaio comunitário envolvendo crianças de uma favela da periferia de Maceió – Alagoas”, foi elaborado a partir dos resultados obtidos em um estudo experimental do tipo ensaio comunitário incluindo crianças (6 a 60 meses) de uma favela de Maceió, alocadas em bloco após sorteio para o Grupo Controle (Setor A; n=50) ou para o Grupo Multimistura (Setor B; n=48). Neste, a suplementação consistiu de duas colheres de sopa/dia fracionadas na alimentação habitual. Avaliações antropométricas foram realizadas antes e após a fase experimental (10 meses). A incidência de agravos à saúde foi investigada pela realização de inquéritos quinzenais de morbidade. A adequação do consumo alimentar foi investigada por inquérito dietético recordatório de 24 horas relativo a 3 dias. A determinação da hemoglobina (Hemocue) e do retinol sérico (HPLC) foi efetuada no final da fase experimental. Conforme cada situação, utilizou-se de estatística paramétrica ou não-paramétrica para análise de significância (p<0,05) dos resultados. Não foram observadas diferenças (p≥0,05) entre os resultados obtidos na avaliação antropométrica, dietética, entre as médias de hemoglobina e retinol sérico e na incidência de diarréia, vômitos e febre. Todavia, as infecções respiratórias incidiram de forma mais intensa sobre as crianças do Grupo Controle (24,3% vs. 16,9%; OR=1,59; IC95=1,13-2,24; p<0,01). Tendo-se por base as recomendações nutricionais para a faixa etária em estudo, verificou-se que o consumo alimentar das crianças, independentemente do grupo ao qual foram alocadas, não atendeu as recomendações de energia, cálcio, vitamina A, ferro e zinco, enquanto as proteínas tinham adequação superior a 100%. Concluiu-se que a suplementação com MM não alterou o perfil antropométrico nem a freqüência de anemia e hipovitaminose A entre as crianças, mas reduziu a incidência de infecções respiratórias. Considerando-se a relação entre riscos e benefícios, recomenda-se a descontinuidade de sua utilização nos serviços de saúde, onde medidas efetivas de intervenção são conhecidas e devem ser implementadas. Destaca-se, nesse sentido, a educação nutricional baseada na adoção de hábitos alimentares saudáveis, com valorização dos alimentos regionais. Acrescente-se que a alimentação adequada é um direito do ser humano, inerente à sua dignidade e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o Estado adotar as políticas necessárias para garantir a segurança alimentar e nutricional da população.

Palavras chave: antropometria, anemia, hipovitaminose A, alimentação alternativa.

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