Pesquisa revela benefícios de dieta restrita em carboidratos

Eliminação temporária de carboidratos no cardápio facilita a perda de peso


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Mestre pela Ufal, Nassib Bueno, se prepara para o doutorado
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Myllena Diniz – estudante de Jornalismo

Longe de ser apenas uma questão estética, os “quilinhos” a mais preocupam grande parte da população e são o primeiro passo para a obesidade. A partir de pesquisas realizadas durante o mestrado em Nutrição pela Universidade Federal de Alagoas, o nutricionista Nassib Bueno revela como a alimentação pode ser a grande aliada dos que estão na luta contra o peso. O pesquisador desenvolveu metanálise que comprovou a eficiência das dietas restritas em carboidratos em relação às dietas tradicionais na busca pelo emagrecimento.

Na dissertação Dieta muito restrita em carboidratos versus dieta convencional para a perda de peso, Nassib Bueno avaliou treze ensaios clínicos aleatórios desenvolvidos em diversas partes do mundo. Para isso, as intervenções nutricionais analisadas por ele corresponderam apenas a estudos com dietas muito restritas em carboidratos e com mais de um ano de duração. Sob a orientação da professora Terezinha da Rocha Ataide, o nutricionista verificou que a drástica redução do consumo de carboidratos facilita a queima de gordura do organismo, em nível superior a de modelos tradicionais de alimentação.

“Nós verificamos que, em períodos maiores que um ano, um indivíduo que se alimenta com base em cardápio restrito em carboidrato emagrece mais 0,9 kg, com intervalo de confiança de 0,17 kg a 1,65 kg, em comparação ao que segue a dieta convencional”, revelou Bueno.

O sobrepeso da população mundial é considerado uma das principais problemáticas contemporâneas. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em maio deste ano, a obesidade é a causa da morte de 2,8 milhões de pessoas anualmente. Para combater a doença no Brasil, muitos profissionais recomendam dietas voltadas para a diminuição do consumo de calorias, por meio da restrição a alimentos ricos em gordura e em açúcar, como ovos, carnes gordas, doces e leite integral. No entanto, esse modelo – o convencional – tem sido confrontado por pesquisadores da área.

Segundo Nassib Bueno, a eliminação temporária de alimentos ricos em carboidratos, como massas, arroz, feijão, inhame, macaxeira e doces, apresenta mais eficácia no combate à obesidade. O pesquisador alega que essa intervenção nutricional permite ao organismo diminuir a secreção de insulina e utilizar a gordura ingerida como fonte de energia.

“O intuito é fazer com que o organismo pense que está em jejum. Mas, o indivíduo não passa fome, pois tem proteínas e gorduras inseridas em seu cardápio. Como o corpo passa a trabalhar com o metabolismo de quem está em jejum, a mudança hormonal contribui para a saciedade. Além disso, nesta dieta, o indivíduo pode comer os alimentos permitidos à vontade. Isso acontece porque, por meio dessa intervenção nutricional, o nível de insulina cai e permanece estável ao longo do dia, o que favorece o catabolismo dos lipídios [gorduras]. Esse é um indício de que o corpo está usando as gorduras como combustível. Ademais, os indivíduos sob esta dieta apresentam uma menor redução no metabolismo basal que os indivíduos sob dieta convencional. Logo, gastam mais calorias, o que favorece ainda mais a perda de peso”, esclarece.

Ainda assim, o nutricionista alagoano ressalta que apesar de ser comum em países da Europa e nos Estados Unidos, a dieta restrita em carboidratos é pouco utilizada pelos brasileiros. “Parece haver uma dificuldade para os profissionais que atuam na área clínica reverterem pesquisa de alta qualidade em recomendações. Já chegou a ser pensado que a dieta restrita em carboidrato, além de não trazer benefícios, poderia trazer riscos para a saúde. Mas estudos demonstram que esse método apresenta muitos benefícios. Por isso, o objetivo dessa pesquisa é mostrar que a análise aprofundada dessa dieta revela que ela é até mais recomendável que a tradicional, para indivíduos que precisam perder muito peso”, explica.

Restrição rigorosa

Segundo o especialista, a fase inicial da dieta requer restrição severa a alimentos que contêm carboidratos, inclusive aos integrais. Mas a reposição ao cardápio é feita gradualmente. “Essa dieta é um desafio às recomendações atuais, pois, mesmo com a reintrodução dos carboidratos ao cardápio do indivíduo, eles não voltam com a quantidade recomendada convencionalmente. Na dieta normal, a recomendação é que o organismo tenha ingestão de 50% a 60% das calorias sob a forma de carboidratos. Na nossa avaliação, o ideal para essa reintrodução é de, no máximo, 35%”, salienta.

Mais controle dos fatores de risco cardiovascular

Além de facilitar a queima de gorduras do organismo e, consequentemente, permitir a perda de peso mais rápida em comparação a modelos convencionais de dieta, a restrição em carboidratos oferece outros benefícios à saúde. De acordo com Nassib Bueno, o método também auxilia na redução das taxas de triglicerídeos, no equilíbrio da pressão arterial diastólica e no aumento do High Density Lipoprotein (HDL), considerado o “bom colesterol”.

Para Bueno, a pesquisa fornece subsídios com respaldo científico a profissionais que atuam na área clínica. “A intenção é de que esse trabalho possa ajudar os profissionais que estão em contato direto com os pacientes a enxergarem a dieta útil e segura para o combate à obesidade”, destaca.