HUPAA institui projeto pioneiro para redução do índice de pacientes desnutridos


25/10/2011 11h51 - Atualizado em 23/09/2014 às 14h22
Professora Adriana Firmino e a acadêmica de nutrição Giovanna Benetti mostram quadro de avaliação nutricional dos pacientes da Clínica Cirúrgica

Professora Adriana Firmino e a acadêmica de nutrição Giovanna Benetti mostram quadro de avaliação nutricional dos pacientes da Clínica Cirúrgica

Fonte: http://www.hu.ufal.br/

Atingindo pacientes em alta escala, a desnutrição hospitalar é um dos fatores agravantes na saúde pública e que continua carente de iniciativas para a redução dos casos. O problema é decorrente de diversos fatores, entre eles a alimentação inadequada antes do internamento, podendo ser gerada por conta da doença ou pode-se chegar ao estado durante o período de internação.

A desnutrição influencia diretamente na evolução do quadro clínico do internado. Um paciente neste estado passa a apresentar queda na imunidade, o risco de contrair infecção torna-se ainda maior, além também da dificuldade na cicatrização de feridas durante processo de recuperação. Um enfermo em estado de risco nutricional tem seu período de internação prolongado, causando assim uma queda na rotatividade nos leitos.

Especialistas afirmam que a taxa de complicações é 50% maior em pacientes desnutridos, a taxa de mortalidade é duas vezes maior e os custos para tratar indivíduos neste estado é quatro vezes maior do que é necessário para tratar os bem nutridos. Juntando um problema ao outro, acaba reduzindo o atendimento à população, por conta da baixa rotatividade nos leitos, e aumenta o custeio com a saúde pelas instituições, que poderia investir estes valores em recursos que não estão disponíveis nos hospitais, como o uso da terapia nutricional.

Para os profissionais, o alto índice de pacientes desnutridos poderia ser reduzido de forma simples. Esta alta porcentagem deve-se principalmente pela falta de avaliação nutricional.

Referência em diversos serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Alagoas, o Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA) começa a mudar esta realidade através de mais um projeto pioneiro que tem sido desenvolvido na instituição: o Sistema de Informação Nutricional (SIN). A iniciativa, aprovada pela Pró-Reitoria de Extensão da Ufal, é de autoria da professora Adriana Firmino, da Faculdade de Nutrição, e está sendo executada pela docente com as acadêmicas Juliana Mara e Giovanna Benetti.

O SIN foi implantado inicialmente na Clínica Cirúrgica e visa realizar um levantamento sobre o estado nutricional dos pacientes que dêem entrada na instituição para a realização de procedimentos cirúrgicos. Desta forma, os profissionais poderão saber se o paciente está em risco ou já se encontra desnutrido, permitindo assim uma intervenção em tempo hábil a evitar a regressão no quadro clínico.

Como explica Adriana Firmino, o estado nutricional do paciente admitido para cirurgia geral é realizado no máximo em 72 horas. Inicialmente é realizada a triagem NRS-2002, que identificará o risco nutricional e se o paciente necessitará de suplementação. Com a triagem é gerada uma pontuação, o escore.

Para o escore total resultando em menor que 3, a triagem aponta que o paciente não apresenta risco nutricional, uma nova avaliação passa a ser feita semanalmente e na identificação feita em tabela é colocada uma bola verde. Mas, se este mesmo paciente for passar por cirurgia de grande porte, o avaliador indicará terapia nutricional para evitar riscos associados. Neste caso a identificação é feita pela cor amarela.

Quando o resultado do escore é maior ou igual a 3, o paciente é considerado em risco nutricional, devendo ser iniciada a terapia nutricional e na tabela de identificação a cor fica em vermelho. Posteriormente, este paciente passa pela Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG), que, segundo a professora, é um método mais complexo pelo fato de identificar alterações que muitas vezes não são percebidas pela antropometria, método que realiza a avaliação através de peso, altura e Índice de Massa Corpórea (IMC).

Após esta fase de triagem, com o escore em mãos, os avaliadores preenchem a tabela identificando os pacientes de cada leito de acordo com as cores verde, amarelo e vermelho, que representam a situação nutricional de cada um.

A tabela preenchida fica disponível na Clínica Cirúrgica, para acesso da equipe multiprofissional, e é enviada ao Serviço de Nutrição e Dietética (SND), que, com as informações repassadas, passará a dar atenção individualizada de acordo com as prioridades identificadas. Sendo assim, a intervenção necessária para evitar ou controlar a desnutrição hospitalar nos pacientes é feita de forma rápida.

“Com a implantação do SIN, passamos a priorizar o atendimento ao paciente internado de acordo com a gravidade do seu estado nutricional. Desta forma poderemos ampliar o atendimento individualizado, que possibilitará a redução de complicações pós-operatórias e também nas taxas de morbimortalidade entre pacientes cirúrgicos”, diz Adriana Firmino.

Segundo a professora, desenvolver o projeto no HUPAA torna-se favorável por conta da instituição já investir na aquisição de recursos para iniciação da terapia nutricional.

Cícero Raimundo, 54, é um dos pacientes que foi beneficiado pela avaliação nutricional. Submetido a uma intervenção cirúrgica na vesícula, Raimundo chegou a perder em média 12 kg no período antes e durante a internação em uma outra unidade de saúde do Estado. Segundo sua esposa, Ana Lúcia, ele não se adaptou a alimentação, além das complicações da enfermidade, apresentando assim um risco de desnutrição considerável.

Raimundo teve alta médica, teve problemas no pós-operatório e foi encaminhado ao HUPAA para tratamento. Desta vez a realidade foi diferente. Conforme Ana Lúcia diz, seu esposo passou por uma avaliação, entrou na terapia nutricional e vem apresentando uma recuperação notória dia a dia.

“Ele hoje está outra pessoa. Com o acompanhamento da equipe e modificação na dieta, ele tem se recuperado bem mais rápido. Já está recuperando seu peso e quem vê percebe que seu estado de saúde tem evoluído. Este acompanhamento nutricional é fundamental à recuperação dos pacientes”, afirma Ana Lúcia.

Avaliando o caso de Raimundo, a professora Adriana Firmino afirma que este é um dos principais motivos pelo qual as instituições de saúde devem preocupar-se com o estado nutricional. “Em nível de Brasil, são poucas as iniciativas desenvolvidas para reduzir a desnutrição hospitalar. Atentando-se para a dieta dos internados podemos evitar complicações no quadro clínico do paciente, em se tratando do lado nutricional, reduziremos os custos e daremos o direcionamento correto no uso de recursos para o tratamento de pacientes de risco”, afirma.